O segundo dia de programação do 1º Festival Literário Internacional da Paraíba, realizado no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, contou com a presença de escritores renomados em mesas temáticas que discutiram identidade, pluralidade, diversidade, soberania, e a literatura da construção da nova cidadania. Também teve início o lançamento de mais de 60 obras no espaço da Feira do Livro, assim como vernissage da exposição “O rosto de Camões, 10 ideias para um futuro decolonizado”. Recital do poeta popular paraibano Jessier Quirino fechou a programação.
A manhã teve início com apresentação do Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (Prima). Na sequência, mesas temáticas compuseram a programação ao longo do dia. O escritor e professor paraibano Milton Marques Junior participou da primeira mesa, “Identidade e reconhecimento – Camões, o estrangeiro”. Ele comentou que “Alexei Bueno é um crítico e um poeta de renome, e estar com ele nessa mesa, conversando sobre Camões, foi muito bom. A importância do Camões é fundamental. Ele funda a língua portuguesa moderna, essa língua que nós falamos. É o segundo nome importante para a fundação de uma língua, que é a solidificação da nacionalidade. Uma nacionalidade se faz quando existe uma língua de cultura que se solidifica e dá voz a essa nacionalidade. Daí a sua importância”.
Maria Valéria Rezende, escritora radicada na paraibana, participou da mesa “Pluralidade e diversidade - educação como pilar do futuro descolonizado. Em sua fala, Rezende recapitulou sua vida, marcada por viagens como educadora: "Eu dei a volta ao mundo quatro vezes sem nunca pagar passagem". Com as viagens ela teve oportunidade de ter contato com outros países lusófonos e com as várias formas da língua portuguesa. "A nossa língua é uma coisa fantástica. Não há nenhuma outra língua tão plástica, capaz de assimilar outras línguas do que o português", afirmou.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa participou da mesa “Soberania e autodeterminação – a literatura na construção da nova cidadania”, e comentou sobre a importância de o Estado apoiar a literatura: “em países como os nossos, Angola e Brasil, onde a maior parte da população tem dificuldades de acesso ao livro, eu creio que o Estado deveria ser mais ativo no apoio, não só às editoras, às livrarias, a criação de redes de bibliotecas públicas, e mesmo subvencionar certos livros de modo que eles possam chegar a um preço mais acessível a maioria da população. Eventos como o FliParaíba são superimportantes para criar novos leitores e ajudar os leitores a descobrir novos autores”.
Público engajado – Erika Kianda, professora de Língua Portuguesa da Educação Básica do Estado em João Pessoa, participou do evento no turno da tarde e afirmou que tem “um particular interesse nessa mesa que falou sobre identidade, porque acompanho a obra de Agualusa e de Valéria Lourenço, mas também porque a gente precisa discutir sobre construção de identidade no Brasil, a gente não respeita as leis sobre ensino da cultura africana nas escolas, então discutir formação da identidade para discutir cidadania é imprescindível. A gente precisa levar isso para dentro da escola, que é onde a gente está formando as identidades”.
Carlos Seixas, funcionário público e escritor de Recife que veio para João Pessoa especialmente para participar do evento, afirmou que “a leitura é importante para a vida. Para você vivenciar um mundo melhor, você precisa aprender coisas. Você precisa treinar o idioma para aprender o idioma, treinar a leitura para saber escrever, para acessar o novo mundo. Eu vim exclusivamente para participar do evento, contactar os angolanos e doar livros para eles, para o povo de Angola, de Moçambique e de Cabo Verde”.
Vernissage exposição - Foi aberta no Festival a exposição “O Rosto Camões: dez ideias para um futuro descolonizado”, de autoria do artista visual português João Francisco Vilhena. Ao todo, são 10 grandes painéis, todos com retratos de pessoas reproduzindo aquela que é a imagem mais famosa do poeta português Luís de Camões, cujo nascimento completa 500 anos em 2024. A saber, a imagem mais famosa do poeta lusitano é uma pintura produzida pelo espanhol Fernão Gomes e que acabou ficando para a posteridade.
A ideia de João Francisco Vilhena, segundo o próprio idealizador da exposição, era justamente promover essa interconexão entre diferentes povos lusófonos. “Eu queria mostrar a diversidade de povos que se unem através da língua”, explicou João Francisco. A exposição ficará aberta até o encerramento do evento na noite de amanhã.
Show Jessier – No encerramento da noite, o poeta popular de Itabaiana-PB Jessier Quirino fez recital no palco do adro. Arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção, é assim que se define o poeta, que assevera sua predileção artística dizendo-se ser um “prestador de atenção das coisas do mato”. Paraibano de Campina Grande (e filho adotivo de Itabaiana, onde reside desde 1983), Jessier Quirino é, hoje, um dos nomes reconhecidos no meio artístico nacional e mais um digno representante da cultura popular nordestina. Tem mais de 10 livros publicados.
FliParaíba - Contando com a participação de escritores e pesquisadores de destaque regional, nacional e internacional em mesas temáticas, além de feira de livros, exposição e apresentações culturais, o FliParaíba segue até amanhã (30) com programação nos três turnos. É realizado pelo Governo da Paraíba em parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA), e tem como tema “Camões 500 anos - uma nova cidadania da língua”. A programação completa está disponível na página do Festival no Instagram @fliparaiba, e no site https://fliparaiba.org/
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