A juventude e o Debate de Ideias.
“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição Genética” é com está clichê, mas não démodé frase de Che Guevara, usada através das décadas por jovens que sonharam com um mundo possível e diferente, que começo esta coluna para, como um ponto de resistência, um lugar para refletir e quem sabe ajudar a mudar o estado de coisas que aí está.
Começo por aquela batalha que acho a mais difícil e a que estamos perdendo de goleada, em um jogo que a regras, as dimensões do campo e o adversário estão sempre mudando, nós cabe assim como numa partida de futebol, fechar a casinha, se reorganizar para voltar a sonhar em pressionar o adversário ou o debate de ideias continuará a regredir e qualquer pensamento de sociedade avançado já nascerá estigmatizado, caricaturesco e atrás no placar.
É inegável que o mundo passou por uma ampla transformação no último período nas suas ferramentas de comunicação, o acesso a internet, smartphones e redes sociais dinamizaram e mudaram a velocidade de como e quando a informação chega a todos, e é justamente nesse ponto que estamos perdendo: na informação.
Entre algoritmos, lista de transmissão, canais, comunidades, robôs, trends, dancinhas e arrobas, a direita e extrema direita que já era detentora de rádios, televisões e grandes portais de mídia, viu nos últimos anos a sua ideologia, valores e conteúdo serem pulverizados e potencializados. Pois o debate que era outrora era feito em editoriais, programas de opinião com argumentação e seus debatedores chancelados pela autoridade que estudos, títulos e livros lhe concediam. Hoje é feito por um exército disperso por diferentes faixas etárias e classes sociais, em vídeos de formação, refutação, problematização e teorias inteiras que cabem em 15 segundos.
Em uma batalha se usa as armas que se tem, a direita não só viu o potencial dessas novas armas primeiro, como ainda hoje as usa melhor, são milhares de reprodutores de seus conteúdos, e são mais milhares de “especialistas” das mais diferentes áreas os produzindo. Mas muitos questionam seus métodos e conteúdos, pois é verdade, que ela joga no campo das ideias através de mentiras(fake news) e desinformação, como se fosse novidade ou algo novo essa tática. Desde da década de 30 que eles usam da estratégia de contar uma mentira mil vezes até se tornar verdade.
O que mudou nos últimos quase 100 anos, foi a velocidade que a mentira chega até o público e a quantidade de pessoas que a contam, e este campo além de uma boa edição, formatação e reprodução, tem tido uma uniformização dos conteúdos, aliada a um grau de profissionalismo, que no nosso campo, tem chegado aos poucos: nos nossos canais, e em poucos produtores de conteúdo que fazem algum contraponto.
A direita tem se alicerçado em um debate sem conteúdo teórico, na negação da política, no uso de dogmas e apropriação de liturgias do religioso, sempre com a estratégia de trazer o debate, quaisquer que seja, para o seu campo: a miudeza intelectual, falsas polêmicas religiosas, frases soltas que deveriam trazer o espírito de teorias complexas a luz de um título.
Entre stories que resolvem o debate, a desqualificação pessoal de quem faz o debate, o discurso que problemas como falta de políticas públicas é resolvido meritocraticamente, os dogmas e tradições religiosas atreladas ao discurso político, a exaltação de armas, o culto a um passado que não existiu, ou mesmo o discurso aberto de ódio contra minorias e mulheres, vão consolidando um público e criando novos formadores(influencer) de opiniões sobre tudo entre os jovens, pois são os únicos que apresentam uma saída, os únicos com soluções, a maioria inclusive “fáceis” e ou fantasiosas. No novo jogo do debate de ideias a direita jogou só por um tempo, e hoje ainda, enfrentam um adversário desorganizado em campo e sem uma escalação ou padrão de jogo para conseguir oferecer perigo.
Os jovens, a juventude, não são uma ilha, se esse cenário no enfrentamento político em um aspecto amplo tem sido adverso para a esquerda, no geral, mesmo com vitórias importantes como a eleição do presidente Lula, a extrema direita aqui no Brasil e no mundo, têm buscado e achado entre os jovens, que nos indicadores em geral tem os piores números, do desalento ao desemprego, a falta de formação. Tem sido na juventude, que eles vêm encontrando combustível a discursos e a políticas que têm na sua raiz, a exclusão do debate, do orçamento, dos empregos, das universidades e das escolas, ou de qualquer espaço de poder para a juventude.
E assim eles vão conquistando corações e mentes, de um público, que como disse Che tem no dna o genoma da mudança, de revolucionário, mas mesmo assim estes discursos excludentes e reacionários vão ganhando novas caras, novas cores, e se renovando. E as perguntas que ficam é: qual deve ser o nosso papel nesse jogo? Como mudá-lo? Por onde começar?
Este blog não se propõe a dar saídas fáceis, ou receita de bolo, ainda mais com um tema tão complexo, mas acredita que pode ajudar, a começar a trazer o debate para o nosso campo, a usar ferramentas do nosso tempo, enfrentar o debate sem idealismo ou realidades fantasiosas. Entender o inimigo é necessário, mas conhecer as nossas limitações e potencialidades também é importante, a juventude ainda é o segmento da sociedade com maior potencial de mudança e de ebulição política, fazer com que o discurso inclusivo de ampliação de políticas públicas, acesso a renda e empregos, ao direito à cidade e a vida volte a povoar corações e mentes de jovens do Brasil, é um grande desafio, mas precisamos o fazer.
Se organizarem politicamente é outro ponto, abraçar a política, ser um agente transformador, ir na contramão da negação, ocupar espaços de poder, ser influenciador do espaço onde mora, trabalha e ou estuda, se desafiarem a produzir: conteúdos, políticas, ações, ideias.
Precisamos expor nossas ideias e apresentá-las ao mundo, temos do nosso lado a verdade, e a construção de um mundo onde todos são bem vindos. Mas precisamos entrar em campo na partida de hoje, do agora, ainda há por exemplo organizações políticas que seu principal meio de debate de ideias ainda é a venda de jornais físicos, vejam, precisamos jogar a partida do nosso tempo, com as táticas e armas do nosso tempo, não se ganha um tempo de 2023, jogando um campeonato como em 1923.
Eu gosto de parafrasear Raul Seixas: “sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Precisamos que jovens escrevam em blogs, criem e alimentem canais do youtube, escrevam editoriais, alimentem redes sociais, escrevam no twitter e nos muros, com grafites. Que as nossas ideias e a chama da mudança não fiquem em gavetas, ou em jornais que ninguém compra, ou em reuniões intermináveis em salas que se domina o mundo sem olhar a janela aqueles que passam na rua a tentar seu ganha pão. Que as nossas ideias e ideais não fiquem à margem do debate, não fique à margem da população, não fique à margem de mentes e corações.
E que assim como a nossa juventude, com todos seus sotaques, cores, crenças e valores, possamos pintar nossas ideias de povo, e que nossas ideias sejam feitas por gente como a gente, que a própria juventude as produza, possa ser escutada de novo, e não apenas escutada, mas também compreendida pois o desafio é de ecoar nossas vozes e em conjunto com o desafio de construir pontes de diálogo permanentes.
A juventude organizada além desses aspectos da construção da batalha de ideias na nossa sociedade, traz consigo também a concretização dessas ideias no curso da luta política como o seu ponto mais marcante junto com a construção de bases sólidas para uma mudança verdadeira e duradoura, pois a vocação do jovem é a mudança, e mudança tem em sua vocação o povo.
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